terça-feira, 1 de junho de 2010

trovadorismo-canções de maldizer

Cantigas de Maldizer
Reúnem a produção satírica e maliciosa da época. Utilizam linguagem mais vulgar, às vezes obscena, referem-se direta e nominalmente a suas personagens. Os temas centrais destas cantigas são as disputas políticas, as questões e ironias que os trovadores se lançam mutuamente e que nos lembram os "desafios" de nossa literatura de cordel, as intimidades de alcova, a covardia ou a falta de jeito de alguns cavaleiros, as mulheres feias. Seu valor poético é pequeno, mas seu aspecto documental torna imprescindível seu estudo.
-características-
-Sátira direta.
-Maledicência.
-Uso de palavras obscenas ou de conteúdo erótico.
-Citação nominal da pessoa satirizada.
-exemplo 1-
Marinha, o teu folgar tenho eu por desacertado,
e ando maravilhado
de te não ver rebentar;
pois tapo com esta minha
boca, a tua boca, Marinha;
e com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu;
com as mãos tapo as orelhas, os olhos e as sobrancelhas,
tapo-te ao primeiro sono;
com a minha piça o teu cono;
e como o não faz nenhum,
com os colhões te tapo o cu.
E não rebentas, Marinha?
(Afonso Eanes de Coton)
Explicação
Diretas, sem equívocos: “ Marinha, o teu folgar”
Intenção difamatória: “E não rebentas, Marinha?”
Palavrões e xingamentos: “com os colhões te tapo o cu”
Essas composições satíricas ( Escárnio e Maldizer ) circulavam por lugares públicos como feiras, colheitas, tabernas, periferias urbanas, caracterizando uma literatura marginal, mas, mesmo por isso, de importância histórica bastante razoável, a exemplo das Cantigas de Amigo, pelo registro social feito.
-exemplo 2-
"Ben me cuidei eu, Maria Garcia,
en outro dia, quando vos fodi,
que me non partiss'eu de vós assi
como me parti já, mão vazia,
vel (1) por serviço muito que vos fiz;
que me non deste, como x'omen diz (2),
sequer um soldo que ceass'(3) um dia.
Mais detsa seerei (4) eu escarmentado
de nunca foder já outra tal molher,
se m'ant'algo (5) na mão non poser,
ca (6) non ei (7) porque foda endoado (8);
sabedes como: ide-o fazer
con quen teverdes (9) vistid'e (10) calçado.
Ca me non vistides nem me clçades
nem ar (1) sel'eu eno ( 12 ) vosso casal (13 ),
nen avedes (14) sobre min non pagades;
ante mui ben e mais vos en direi:
nulho (15) medo, grad'a (16) Deus, e a el-Rei,
non ei de força que me vós façades.
E, mia dona, quen pregunta non erra;
e vós, por Deus, mandade preguntar
polos naturaes deste logar
se foderan nunca en paz nen en guerra,
ergo (17) se foi por alg'ou por amor.
Id'adubar vossa prol, ai, senhor,
c'avedes, grad'a Deus, renda na terra. "
( Afondo Eanes do Coton )
-vocabulário-
1-em troca de; 2- como se diz; 3-suficiente; 4-sairei; 5- antes me algo; 6-pois; 7-hei, há; 8- de graça;
9- tiverdes; 10- vestido; 11-novamente; 12-na; 13- vossa casa; 14- tendes; 15-nenhum; 16-graças; 17- salvo.
O texto, pela presença do refrão e de paralelismos, pode facilmente ser identificado como Cantiga de Amigo. Quanto ao assunto, a moça reclama porque o "amigo"não a procurou no prazo combinado. A mãe é a sua ouvinte.
OBSERVAÇÃO: muitas vezes, a diferenciação entre Escárnio e Maldizer é difícil, por não haver caracteres rígidos.
-Nomenclatura-
Há um pequeno vocabulário relativo à estruturação técnica de cantigas, do qual listamos parte:
Estribilho ou Refrão = verso repetido na íntegra
Paralelismo = verso repetido com alguma alteração de palavras(s).
Cantigas de Maestria = canção
Palavras = verso
Cobra, Cobla ou Talho = estrofe
Palavra Perdula = verso branco.
Leixa-pren ( deixa -prende ) = o último verso de uma estrofe é repetido como o primeiro verso da estrofe seguinte.
- Alguns Autores-
O registro e a lembrança de muitos autores trovadorescos perderam-se na distância do tempo, mas alguns permanecem até nossos dias:
D.Dinis (1261-1325 ): até aqui é o trovador mais importante. Além de incentivador da cultura e das artes, este monarca português configura delicadeza e simplicidade numa gama variada de sentimentos: dor, tristeza, saudade, expectativa, o que faz da coleção de 138 cantigas de sua autoria a obra mais rica e interessante do Trovadorismo peninsular.
João Garcia de Guilhade: Compôs abundantemente e conseguiu, segundo estudiosos, manter uma boa qualidade geral em sua obra.
Martim Codax: Dado como jogral do século XIII, é autor de bom nível. Suas cantogas estão entre as poucas que tiveram a música, além da letra, preservada até nossos dias.
Paio Soares de Taveirós: Autor da canção A Ribeirinha, que, como já dito antes, marca o início do Trovadorismo português.
postado por: Emille Silva
da turma 1009

Nenhum comentário:

Postar um comentário